quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Amigos vs Inimigos

É bom ter amigos, mas por vezes, parece que estão longe e desanimando vivemos como se eles não existissem. No entanto, pior que os não ter ou não os sentir é não ter inimigos, como diz o autor que cito em baixo.

" É triste não ter amigos ? Ainda mais triste é não ter inimigos, porque quem não tem inimigos é sinal que não tem talento que faça sombra, carácter que impressione, coragem para que o temam, honra contra a qual murmurem, bens que lhe cobicem nem coisa alguma que lhe invejem ..."
François-Marie Arouet

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

UM SEGREDO DE UM CASAMENTO FELIZ.

Miguel Esteves Cardoso é um cronista que por vezes nos surpreende e desconcerta com as suas crónicas, desafiadoras e interpelativas.
Nesta crónica ele dá-nos Boas Razões para um casamento poder ser Feliz. Basta que ambos queiram.
Para isso é preciso escolher prioridades na relação, e a primeira e pela qual se luta é mesmo querer mesmo ser Feliz, e não dizer que se quer e depois deixar andar à espera que o outro faça tudo sozinho.

Aníbal Carvalho

"Desde que a Maria João e eu fizemos dez anos de casados que estou para escrever sobre o casamento. Depois caí na asneira de ler uns livros profissionais sobre o casamento e percebi que eu não percebo nada sobre o casamento. Confesso que a minha ambição era a mais louca de todas: revelar os segredos de um casamento feliz. Tendo descoberto que são desaconselháveis os conselhos que ia dar, sou forçado a avisar que, quase de certeza, só funcionam no nosso casamento.
Mas vou dá-los à mesma, porque nunca se sabe e porque todos nós somos muito mais parecidos do que gostamos de pensar.
O casamento feliz não é nem um contrato nem uma relação. Relações temos nós com toda a gente. É uma criação. É criado por duas pessoas que se amam.
O nosso casamento é um filho. É um filho inteiramente dependente de nós. Se nós nos separarmos, ele morre. Mas não deixa de ser uma terceira entidade.
Quando esse filho é amado por ambos os casados - que cuidam dele como se cuida de um filho que vai crescendo -, o casamento é feliz. Não basta que os casados se amem um ao outro. Têm também de amar o casamento que criaram.
O nosso casamento é uma cultura secreta de hábitos, métodos e sistemas de comunicação. Todos foram criados do zero, a partir do material do eu e do tu originais.
Foram concordados, são desenvolvidos, são revistos, são alterados, esquecidos e discutidos. Mas um casamento feliz com dez anos, tal como um filho de dez anos, tem uma personalidade mais rica e mais bem sustentada, expressa e divertida do que um bebé com um ano de idade.
Eu só vivo desta maneira - que é o nosso casamento - vivendo com a Maria João, da maneira como estamos um com o outro, casados. Nada é exportável. Não há bocados do nosso casamento que eu possa levar comigo, caso ele acabe.
O casamento é um filho carente que dá mais prazer do que trabalho. Dá-se de comer ao bebé mas, felizmente, o organismo do bebé é que faz o trabalho dificílimo, embora automático, de converter essa comida em saúde e crescimento.
Também o casamento precisa de ser alimentado mas faz sozinho o aproveitamento do que lhe damos. Às vezes adoece e tem de ser tratado com cuidados especiais. Às vezes os casamentos têm de ir às urgências. Mas quanto mais crescem, menos emergências há e melhor sabemos lidar com elas.
Se calhar, os casais apaixonados que têm filhos também ganhariam em pensar no primeiro filho que têm como sendo o segundo. O filho mais velho é o casamento deles. É irmão mais velho do que nasce e ajuda a tratar dele. O bebé idealmente é amado e cuidado pela mãe, pelo pai e pelo casamento feliz dos pais.
Se o primeiro filho que nasce é considerado o primeiro, pode apagar o casamento ou substitui-lo. Os pais jovens - os homens e as mulheres - têm de tomar conta de ambos os filhos. Se a mãe está a tratar do filho em carne e osso, o pai, em vez de queixar-se da falta de atenção, deve tratar do mais velho: do casamento deles, mantendo-o romântico e atencioso.
Ao contrário dos outros filhos, o primeiro nunca sai de casa, está sempre lá. Vale a pena tratar dele. Em contrapartida, ao contrário dos outros filhos, desaparece para sempre com a maior das facilidades e as mais pequenas desatenções. O casamento feliz faz parte da família e faz bem a todos os que também fazem parte dela.
Os livros que li dão a ideia de que os casamentos felizes dão muito trabalho. Mas se dão muito trabalho como é que podem ser felizes? Os livros que li vêem o casamento como uma relação entre duas pessoas em que ambas transigem e transaccionam para continuarem juntas sem serem infelizes. Que grande chatice!
Quando vemos o trabalho que os filhos pequenos dão aos pais, parece-nos muito e mal pago, porque não estamos a receber nada em troca. Só vemos a despesa: o miúdo aos berros e a mãe aflita, a desfazer-se em mimos.
É a mesma coisa com os casamentos felizes. Os pais felizes reconhecem o trabalho que os filhos dão mas, regra geral, acham que vale a pena. Isto é, que ficaram a ganhar, por muito que tenham perdido. O que recebem do filho compensa o que lhe deram. E mais: também pensam que fizeram bem ao filho. Sacrificam-se mas sentem-se recompensados. Num casamento feliz, cada um pensa que tem mais a perder do que o outro, caso o casamento desapareça. Sente que, se isso acontecer, fica sem nada. É do amor. Só perdeu o casamento deles, que eles criaram, mas sente que perdeu tudo: ela, o casamento deles e ele próprio, por já não se reconhecer sozinho, por já não saber quem é - ou querer estar com essa pessoa que ele é.
Se o casamento for pensado e vivido como uma troca vantajosa - tu dás-me isto e eu dou-te aquilo e ambos ficamos melhores do que se estivéssemos sozinhos -, até pode ser feliz, mas não é um casamento de amor.
Quando se ama, não se consegue pensar assim. E agora vem a parte em que se percebe que estes conselhos de nada valem - porque quando se ama e se é amado, é fácil ser-se feliz. É uma sorte estar-se casado com a pessoa que se ama, mesmo que ela não nos ame.
Ouvir um casado feliz a falar dos segredos de um casamento feliz é como ouvir um bilionário a explicar como é que se deve tomar conta de uma frota de aviões particulares - quantos e quais se devem comprar e quais as garrafas que se deve ter no bar, para agradar aos convidados.
Dirijo-me então às únicas pessoas que poderão aproveitar os meus conselhos: homens apaixonados pelas mulheres com quem estão casados.
E às mulheres apaixonadas pelos homens com quem estão casadas? Não tenho nada a dizer. Até porque a minha mulher continua a ser um mistério para mim. É um mistério que adoro, mas constitui uma ignorância especulativa quase total.
Assim chego ao primeiro conselho: os homens são homens e as mulheres são mulheres. A mulher pode ser muito amiga, mas não é um gajo. O marido pode ser muito amigo, mas não é uma amiga.
Nos livros profissionais, dizem que a única grande diferença entre homens e mulheres é a maneira como "lidam com o conflito": os homens evitam mais do que as mulheres. Fogem. Recolhem-se, preferem ficar calados.
Por acaso é verdade. Os livros podem ser da treta mas os homens são mais fugidios.
Em vez de lutar contra isso, o marido deve ceder a essa cobardia e recolher-se sempre que a discussão der para o torto. Não pode ser é de repente. Tem de discutir (dizê-las e ouvi-las) um bocadinho antes de fugir.
Não pode é sair de casa ou ir ter com outra pessoa. Deve ficar sozinho, calado, a fumegar e a sofrer. Ele prende-se ali para não dizer coisas más.
As más coisas ditas não se podem desdizer. Ficam ditas. São inesquecíveis. Ou, pior ainda, de se repetirem tanto, banalizam-se. Perdem força e, com essa força, perde-se muito mais.
As zangas passam porque são substituídas pela saudade. No momento da zanga, a solidão protege-nos de nós mesmos e das nossas mulheres. Mas pouco - ou muito - depois, a saudade e a solidão tornam-se insuportáveis e zangamo-nos com a própria zanga. Dantes estávamos apenas magoados. Agora continuamos magoados mas também estamos um bocadinho arrependidos e esperamos que ela também esteja um bocadinho.
Nunca podemos esconder os nossos sentimentos mas podemos esconder-nos até poder mostrá-los com gentileza e mágoa que queira mimo e não proclamação.
Consiste este segredo em esperar que o nosso amor por ela nos puxe e nos conduza. A tempestade passa, fica o orgulho mas, mesmo com o orgulho, lá aparece a saudade e a vontade de estar com ela e, sobretudo, empurrador, o tamanho do amor que lhe temos comparado com as dimensões tacanhas daquela raivinha ou mágoa. Ou comparando o que ganhamos em permanecer ali sozinhos com o que perdemos por não estar com ela.
Mas não se pode condescender ou disfarçar. Para haver respeito, temos de nos fazer respeitar. Tem de ficar tudo dito, exprimido com o devido amuo de parte a parte, até se tornar na conversa abençoada acerca de quem é que gosta menos do outro. Há conflitos irresolúveis que chegam para ginasticar qualquer casal apaixonado sem ter de inventar outros. Assim como o primeiro dever do médico é não fazer mal ao doente, o primeiro cuidado de um casamento feliz é não inventar e acrescentar conflitos desnecessários.
No dia-a-dia, é preciso haver arenas designadas onde possamos marrar uns com os outros à vontade. No nosso caso, é a cozinha. Discutimos cada garfo, cada pitada de sal, cada lugar no frigorífico com desabrida selvajaria.
Carregamos a cozinha de significados substituídos - violentos mas saudáveis e, com um bocadinho de boa vontade, irreconhecíveis. Não sabemos o que representam as cores dos pratos nas discussões que desencadeiam. Alguma coisa má - competitiva, agressiva - há-de ser. Poderíamos saber, se nos déssemos ao trabalho, mas preferimos assim.
A cozinha está encarregada de representar os nossos conflitos profundos, permanentes e, se calhar, irresolúveis. Não interessa. Ela fornece-nos uma solução superficial e temporária - mas altamente satisfatória e renovável. Passando a porta da cozinha para irmos jantar, é como se o diabo tivesse ficado lá dentro.
Outro coliseu de carnificina autorizada, que mesmo os casais que não podem um com o outro têm prazer em frequentar, é o automóvel. Aí representamos, através da comodidade dos mapas e das estradas mesmo ali aos nossos pés, as nossas brigas primais acerca das nossas autonomias, direcções e autoridades para tomar decisões que nos afectam aos dois, blá blá blá.
Vendo bem, os casamentos felizes são muito mais dramáticos, violentos, divertidos e surpreendentes do que os infelizes. Nos casamentos infelizes é que pode haver, mantidas inteligentemente as distâncias, paz e sossego no lar."


25.10.2010 - Miguel Esteves Cardoso

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

SAUDADE

Depois das férias, uma pessoa minha amiga, mandou-me para reflexão, este maravilhoso poema de Fernando Pessoa sobre a separação e a saudade que ela provoca em cada um de nós. Perante tal dureza, mas tão real, o que eu possa dizer não significa nada. No entanto, as palavras do poeta são, além de verdadeiras, acutilantes e desafiadoras. É com este espírito que aqui reproduzo o poema.


"Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora,
das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,
dos tantos risos e momentos que partilhámos.

Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das
vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...
do companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.

Hoje já não tenho tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja
pelo destino ou por algum
desentendimento, segue a sua vida.

Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas cartas
que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...
Aí, os dias vão passar, meses... anos... até este contacto
se tornar cada vez mais raro.

Vamo-nos perder no tempo...

Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e
perguntarão:
Quem são aquelas pessoas?

Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!

- Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons
anos da minha vida!

A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...

Quando o nosso grupo estiver incompleto...
reunir-nos-emos para um último adeus a um amigo.

E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.
Então, faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes
daquele dia em diante.

Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a
sua vida isolada do passado.

E perder-nos-emos no tempo...

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não
deixes que a vida
passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de
grandes tempestades...

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem
morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem
todos os meus amigos!"

Fernando Pessoa

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O TEMPO E A CONTA

Com o decorrer do tempo vamos ficando cada vez mais conscientes da precariedade da vida e da importância que cada fracção de tempo tem para aquilo que fazemos ou deixamos de fazer.
A este propósito encontrei um poema de Frei Castello Branco (Séc.XVIII), chamado, o Tempo e a Conta, e que pela sua beleza aqui reproduzo, esperando que alguns leitores se sintam interpelados por ele.

"Deus nos pede do tempo estreita conta
E é forçoso dar conta, a Deus, do tempo!
Mas como dar do tempo tanta conta,
Se se perde, sem conta, tanto tempo?

Para fazer a tempo a minha conta,
Dado me foi, por conta, muito tempo.
Mas não cuidei no tempo, e foi-se a conta,
E eis-me agora sem conta... eis-me sem tempo...

Ó vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não o gasteis, sem conta, em passatempo;
Cuidai, enquanto é tempo, em terdes conta.

Ah! Se quem isto conta, do seu tempo
Tivesse feito a tempo, apreço e conta,
Não chorara, sem conta, o não ter tempo!"

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Brevidade da vida

Quase todos nós vivemos cada dia e cada ano como se tivéssemos uma eternidade para viver. O facto é que todos os dias vão morrendo pessoas, mais ou menos próximas de cada um de nós e nem assim assumimos essa brevidade.
Deixo aqui esta pequena estória, que pela sua simplicidade e singeleza, nos pode levar a uma profunda reflexão sobre o que andamos aqui a fazer.
Aníbal Carvalho

"O maior prazer de uma pessoa inteligente é bancar o idiota diante de um idiota que banca o inteligente."
Só de passagem ...
Conta-se que no século passado, um turista americano foi à cidade do Cairo no Egipto, com o objectivo de visitar um famoso sábio. O turista ficou surpreso ao ver que o sábio morava num quartinho muito simples e cheio de livros. As únicas peças de mobília eram uma cama, uma mesa e um banco.- Onde estão seus móveis? Perguntou o turista. E o sábio, bem depressa olhou ao seu redor e perguntou também:- E onde estão os seus...?- Os meus?! Surpreendeu-se o turista.- Mas estou aqui só de passagem!- Eu também... - concluiu o sábio.
"A vida na Terra é somente uma passagem... No entanto, alguns vivem como se fossem ficar aqui eternamente, e se esquecem de ser felizes."

"NÃO SOMOS SERES HUMANOS PASSANDO POR UMA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL... SOMOS SERES ESPIRITUAIS PASSANDO POR UMA EXPERIÊNCIA HUMANA..."

Preparação para o matrimónio de Pixar

terça-feira, 13 de julho de 2010

Uma questão de sanidade mental dos portugueses

Pedro Afonso é um médico psiquiatra e por isso nada melhor do que ele para nos falar do estado mental dos portugueses.
Este texto foi publicado no jornal diário, Público no dia 21.06.2010. Ele reflecte bem o momento que se vive no nosso país e quais algumas das causas que lhe deram origem.
Será bom que meditemos nisto e olhemos para os políticos que decidem e fazem leis.
Aníbal Carvalho

"Recentemente ficou a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.
Interessa-me a saúde mental a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque nos últimos quinze anos o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos. Interessa-me a saúde mental a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da segurança social. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria. Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais. E hesito prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante estes rostos que me visitam diariamente."
Pedro Afonso. Médico Psiquiatra

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Ser idoso e ser desprezado

Cada vez mais a nossa sociedade utiliza a técnica dos “descartáveis” que é, compra, usa e deita fora. Este processo também se aplica muitas vezes em relação às pessoas menos capazes ou até aquelas que sendo capazes são consideradas “velhas”.
A comprovar tudo isso vem este texto escrito com e alma e com coragem, por uma senhora idosa mas que revela a plenitude da sua vida.
É para promover o respeito e a dignidade dos mais velhos que coloco aqui o grito e o apelo desta senhora.
Esta senhora idosa morreu numa clínica da Escócia e todos pensavam que ela nada tinha deixado. No entanto, algumas enfermeiras encontraram junto dos seus poucos haveres um pequeno poema.
Este poema foi levado para a Irlanda e aí publicado na edição de Natal da notícia da União para a Saúde Mental na Irlanda do Norte.
Aníbal Carvalho


“Que vêem amigas? Que vêem ?
Que pensam quando me olham?
Uma velha rabugenta não muito inteligente
de hábitos incertos, com seus olhos sonhadores fixos ao longe?
A velha que cospe comida, que não responde
ao tentar ser convencida... “De, fazer um pequeno esforço?"
A velha, que vocês acreditam que não se dá conta
das coisas que vocês fazem e que continuamente
perde a sua escova ou o sapato ?
A velha, que contra sua vontade, mas humildemente lhes permite
a fazer o que queiram,que me banhem e me alimentem
só para o dia passar mais depressa....
É isso que vocês acham?É isso que vocês vêem?
Se assim for, abram os olhos, amigas, porque
isso que vocês vêem não sou eu!
Vou-lhes dizer quem sou, quando estou sentada aqui,
tão tranquila como me ordenaram...
Sou uma menina de 10 anos, que tem pai e mãe,
irmãos e irmãs que se amam.
Sou uma jovenzinha de 16 anos. Com asas nos pés,
e que sonha encontrar seu amado.
Sou uma noiva aos 20,
Que o coração salta nas lembranças,
Quando fiz a promessa
Que me uniu até o fim de meus dias com o AMOR de minha vida.
Sou ainda uma moça com 25 anos,
Que tem seus filhos,
Que precisam que eu os guie...
Tenho um lugar seguro e feliz !
Sou a mulher com 30 anos.
Onde os filhos crescem rápido,
E estamos unidos com laços que deveriam durar para sempre...
Quando tenho 40 anos
Meus filhos já cresceram
E não estão em casa...
Mas ao meu lado está meu marido
Que me acalenta quando estou triste.
Aos cinquenta, mais uma vez comigo deixam os bebés,
meus netos,e de novo tenho a alegria das crianças,
meus entes queridos junto a mim.
Aos 60 anos,
sobre mim nuvens escuras aparecem, meu marido está morto;
e quando olho o meu futuro arrepio-me toda de terror.
Os meus filhos foram-se, e agora têm os seus próprios filhos...
Então penso em tudo o que aconteceu e no amor que conheci.
Agora sou uma velha.
Que cruel é a natureza....
A velhice é uma piada
Que transforma um ser humano
Num alienado.
O corpo murcha
Os atractivos e a força desaparecem
Ali, onde uma vez houve um coração
Agora há uma pedra.

No entanto, nestas ruínas, a menina de 16 anos ainda está viva.
E o meu coração cansado, ainda está repleto de sentimentos
Vivos e conhecidos
Recordo os dias felizes e tristes
Nos meus pensamentos volto a amar e a viver o meu passado.
Penso em todos esses anos
Que foram, ao mesmo tempo poucos
Mas que passaram muito rápido,
E aceito o inevitável..
Que nada pode durar para sempre...por isso, abram os vossos olhos e vejam
Que diante de vocês não está uma velha mal-humorada.
Diante de vocês estou apenas “EU...”
Uma menina, mulher e senhora
Viva...!! E com todos os sentimentos de uma vida...
Lembrem-se deste poema da próxima vez que se encontrar com uma pessoa idosa mal-humorada e não a rejeitem,
Sem olhar primeiro a sua Alma Jovem…”

Mais tarde ou mais cedo qualquer um de nós também vai poder estar neste lugar, por isso não menospreze essa possibilidade.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Os cristãos e a crise de valores

Habitualmente queixamo-nos que a sociedade em geral é contrária aos valores fundamentais da fé cristã. Mas podemos nos perguntar-nos. Como cristãos que temos feito nós para inverter essa tendência?
O Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa numa conferência das Jornadas Pastorais da CEP, enviou uma mensagem muito importante para todos os católicos comprometidos com a Igreja e com a sociedade.
Não podemos ficar indiferentes nem permanecermos amorfos perante as necessidades da sociedade. Temos de ser "sal" e "luz" para o mundo de hoje. Para que isso seja mais fácil reproduzo aqui a sua mensagem integral.
Aníbal Carvalho

"Introdução1.- A obrigação de estar atento aos “sinais dos tempos” para intuir os caminhos da missão, em cada tempo e circunstância concretos, é dos maiores desafios pastorais do Concílio Vaticano II, o que melhor define a maneira de conceber a presença da Igreja na sociedade e a sua missão de salvação.
Logo no início, o Concílio rejeitou um texto condenatório dos erros da sociedade contemporânea. O Concílio não se reunia para condenar, mas para anunciar a salvação. A verdade da Igreja na sociedade é a de enviada a anunciar a salvação, o que supõe que a Igreja participa do ardor e do amor salvífico de Jesus Cristo por uma humanidade em processo de salvação. Só amando o mundo se podem captar os sinais que a realidade emite, para que a Igreja intua caminhos concretos de missão. A Gaudium et Spes é a Constituição Pastoral que exprime esta perspectiva que inspirou todo o Concílio. A começar, afirma: “O Concílio, testemunha e guia da fé de todo o Povo de Deus, reunido por Cristo, não poderia dar uma prova mais eloquente de solidariedade, de respeito e de amor ao conjunto da família humana, a que este Povo pertence, que fazer prova de diálogo com ela sobre os diferentes problemas, iluminando-os à luz do Evangelho e pondo à disposição do género humano o poder salvífico que a Igreja, conduzida pelo Espírito, recebe do seu Fundador” (1). E acrescenta: “para levar a bom termo esta tarefa, a Igreja tem o dever, em cada momento, de perscrutar os sinais dos tempos e de os interpretar à luz do Evangelho” (2).
E no capítulo sobre a dignidade da vocação humana, insiste: “Movido pela fé, sabendo-se conduzido pelo Espírito do Senhor que enche o Universo, o Povo de Deus esforça-se por discernir nos acontecimentos, nas exigências e nos anseios do nosso tempo, de que participa com todos os outros homens, quais são os verdadeiros sinais da presença ou desígnio de Deus” (3).

2.- Não é um convite à simples análise sociológica, mas à intuição profética. O verbo escolhido é importante: trata-se de “perscrutar”, o que lembra a atitude dos profetas que estavam à espreita, para perceber nos acontecimentos o modo e a circunstância do seu anúncio. Só da fé e do amor salvífico de Deus pode brotar essa “intuição”, esse “perscrutar” dos sinais, que indicam portas abertas ao anúncio da salvação e do desígnio de Deus para a humanidade. “A fé esclarece todas as coisas com uma luz nova” (4), uma fé que nos revela o amor salvífico de Deus pela humanidade, e a certeza que nunca a abandona através da acção do Espírito que enche toda a terra. Perceber a sua missão de natureza visível com esta acção invisível do Espírito em toda a humanidade, é desafio contínuo, dirigido à Igreja.

“Sinais dos tempos” e nova Evangelização
3.- Há uma convergência entre este dever da Igreja de “perscrutar”, na realidade do mundo, os “sinais” do Reino de Deus, e o desafio lançado por João Paulo II de uma “nova evangelização”, aliás presente na Evangeli Nuntiandi de Paulo VI. O que a distingue da simples re-evangelização, é um novo ardor que nos ajudará a descobrir os “novos métodos”, isto é, um modo novo de anunciar. Este novo ardor é o do amor salvífico, da paixão amorosa pela salvação do mundo. Sem amar o mundo com este amor ardente, não haverá “nova evangelização”, e esse amor é participação no amor infinito de Jesus Cristo, que oferece continuamente a sua vida pelo Povo que redimiu e pelo mundo que ama.

Uma nova atitude perante a sociedade
4.- Este é um ponto prévio para uma leitura actual dos “sinais dos tempos”: olhar o mundo com amor e com esperança. Podemos cair, facilmente de mais, na atitude de condenação da sociedade actual. Mas é possível amar o mundo sem concordar com o mundo. O anúncio cristão pode, por vezes, ser uma denúncia, embora deva ser, sobretudo, anúncio. Mas se começa pela denúncia, corre o risco de nunca ser anúncio.
Este olhar construtivo sobre a sociedade, por parte da Igreja, tem como fundamento duas dimensões: a certeza da fé que Deus ama o mundo e que o Espírito Santo está em acção, levando muitos homens e mulheres a buscarem a rectidão de consciência, a lutarem pela justiça e pela defesa da dignidade do homem, a procurarem para a sociedade caminhos de dignidade, de generosidade e de solidariedade; e que os valores explicitamente enunciados na doutrina da Igreja não são apenas afirmados, mas vividos e postos em prática na luta por uma sociedade renovada. O Santo Padre deixou-nos essa mensagem: “De uma visão sábia sobre a vida e sobre o mundo deriva o ordenamento justo da sociedade. Situada na história, a Igreja está aberta a colaborar com quem não marginaliza nem privatiza a essencial consideração do sentido humano da vida. Não se trata de um confronto ético entre um sistema laico e um sistema religioso, mas de uma questão de sentido, à qual se entrega a própria liberdade”(5). Mas adverte-nos: “Viver na pluralidade de sistemas de valores e de quadros éticos, exige uma viagem ao centro de si mesmo e ao cerne do cristianismo para reforçar a qualidade do testemunho até à santidade, inventar caminhos de missão até à radicalidade do martírio” (6).
Esta atitude aberta e dialogante é afirmada por Bento XVI ainda no avião a caminho de Lisboa, falando da dialéctica entre secularismo e fé: “A dialéctica entre secularismo e fé tem uma longa história em Portugal. Já no século XVIII há uma forte presença do Iluminismo. Basta pensar no nome Pombal. Assim, vemos que Portugal viveu sempre, nesses séculos, na dialéctica que, naturalmente hoje, se radicalizou e se mostra com todos os sinais do espírito europeu de hoje. Este parece-me um desafio e uma grande possibilidade. Nesses séculos de dialéctica entre Iluminismo, secularismo e fé, nunca faltaram pessoas que quiseram estabelecer pontes e criar um diálogo, ainda que, infelizmente, a tendência dominante foi a da contraposição e da exclusão de um e de outro. Hoje, vemos que justamente esta dialéctica é uma chance; que devemos encontrar uma síntese e um diálogo profundo e de vanguarda” (7).
Esta atitude dialogante da Igreja perante a sociedade real, com os seus valores e os seus desvios, não pode significar uma cedência. Em todas as circunstâncias, a Igreja deve anunciar a perspectiva evangélica, os próprios atropelos à verdade, à justiça, e à dignidade do homem são ocasião desse anúncio, antes, exigem esse anúncio, que não pode ser apenas denúncia negativa, mas afirmação do nosso empenho no progresso da humanidade. Se nos limitarmos à denúncia a nossa voz pode ser facilmente interpretada como mera tomada de posição política e ser vítima de fundamentalismos. E estes, sejam de matriz religiosa ou ideológica, acabam sempre por roçar a intervenção política na defesa de posições pessoais ou grupais, isolando a verdade que defendem da verdade fundamental que é o amor salvífico de Deus. Esquecem facilmente que por detrás de um erro, se podem abrir portas a outras dimensões da verdade.

Novas formas de intervenção da Igreja na sociedade
5.- Frente à actual realidade da sociedade portuguesa, ouso ter um pressentimento: é preciso encontrar formas novas de intervenção da Igreja na sociedade. A Igreja faz parte integrante do todo da sociedade e dada a qualidade da sua mensagem e o número dos seus membros, não pode deixar de procurar formas sempre novas para contribuir para o bem da comunidade humana em que está integrada.
Estamos a cair na situação anacrónica que qualquer intervenção da Igreja, de modo particular da hierarquia, em dimensões fundamentais como o são uma sã antropologia ou a defesa de valores éticos é facilmente julgada como intervenção na esfera do estritamente político, esquecendo que o domínio político é todo o interesse pelo bem da “polis”. É preciso valorizar a Igreja como o conjunto dos fiéis, a comunidade crente, e não a identificar só com a hierarquia. Esta, por decisão própria e em defesa do carácter específico do seu ministério, abstém-se habitualmente de se imiscuir no âmbito do estritamente político. Mas os cristãos leigos não são a isso obrigados e devem ser porta-vozes, no seio da sociedade, dos autênticos valores cristãos. Aliás, pressinto que virá dos leigos a energia para esta renovação da intervenção da Igreja na sociedade. O Santo Padre, dirigindo-se aos Bispos, sublinha a importância decisiva de um “laicado maduro”: “Os tempos que vivemos exigem um novo vigor missionário dos cristãos chamados a formar um laicado maduro, identificado com a Igreja, solidário com a complexa transformação do mundo. Há necessidade de verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo, sobretudo nos meios humanos, onde o silêncio da fé é mais amplo e profundo: políticos, intelectuais, profissionais da comunicação que professam e promovem uma proposta mono-cultural com menosprezo pela dimensão religiosa e contemplativa da vida. Em tais âmbitos, não faltam crentes envergonhados que dão as mãos ao secularismo, construtor de barreiras à inspiração cristã”(8).
A intervenção profética da Igreja na sociedade contemporânea tem de privilegiar a proclamação de uma correcta antropologia, levando à descoberta do mistério do homem, de que decorre a defesa ética dos princípios da convivência humana, em ordem à construção duma sociedade fraterna. Este desafio antropológico esteve fortemente presente na palavra do Papa entre nós. Referindo-se à contribuição da Igreja no “ordenamento justo da sociedade”, explicita: “Situada na história, a Igreja está aberta a colaborar com quem não marginaliza a essencial consideração do sentido humano da vida” (9). Esta sã antropologia tem de integrar a dimensão transcendente da vida humana, “integrar a fé e a racionalidade moderna numa única visão antropológica, que completa o ser humano e torna, desse modo, comunicáveis as culturas humanas”(10).
Só desta compreensão do homem e da sua transcendência brota uma ética da convivência para a construção da sociedade. A exigência ética envolve toda a existência humana, pessoal e comunitária, a vida e o amor, o trabalho e a economia.
Aprofundar o conhecimento do mistério e da dignidade do homem, donde decorre uma visão ética da vida, supõe um esforço acrescido de formação do laicado. A doutrina social da Igreja continua a ser a grande desconhecida. Só esse aprofundamento cultural formará a consciência dos cristãos sobre todas as dimensões da vida humana, pessoal e comunitariamente considerada. É impressionante verificar a pouca importância que a dimensão ética tem nas escolhas políticas. E no entanto, em democracia participativa, o voto deveria ser sempre a escolha de uma consciência bem formada e esclarecida. A Igreja deve lutar por isso, o que não significa o imiscuir-se no estritamente político. Esse esforço de formação será uma luta pela liberdade.

Atenção a quantos buscam o sentido da vida6.- O texto da Gaudium et Spes, já citado, refere como contexto do dever de discernir os “sinais dos tempos” a necessidade de a Igreja responder “de forma adaptada a cada geração, sobre as questões eternas dos homens acerca do sentido da vida presente e futura e das suas relações recíprocas” (11).
Esta busca do sentido é, hoje, a maior expressão da densidade da existência humana, diria mesmo, do drama humano. O que é a vida, o que é o amor, que sentido tem o sofrimento? As mutações sociais, que não é possível referir aqui, adensaram este drama do sentido, relativizaram as respostas adquiridas e transmitidas, lançaram dúvidas sobre a porta a que se deve bater para encontrar uma resposta. Encontro um pequeno eco desta inquietação nas muitas mensagens que me são dirigidas, procurando uma resposta, exigindo que a Igreja seja uma resposta.
Ler os “sinais” para que a Igreja seja a resposta adaptada a cada geração. Sinto que muitos já não procuram, espontaneamente, a resposta da Igreja, na sua acção institucional. Será que as nossas estruturas de acolhimento estão preparadas para essa resposta, adaptada à geração presente? Apesar de tantos “pastores” e de a acção da Igreja dever ser toda pastoral, esta multidão, como no tempo de Jesus, continua a parecer “um rebanho sem pastor”.
O texto do Concílio fala, depois, das questões eternas do sentido da vida presente e futura e das suas relações mútuas. É preocupante a evolução na nossa sociedade e mesmo entre os cristãos, sobre a fé na vida eterna. Muitos já não acreditam nela e mesmo os que não a excluem não fazem dela o objectivo mobilizador da esperança e não fazem a relação dessa esperança com o sentido da vida presente. Ouçamos, mais uma vez, a palavra do Papa entre nós. Falando aos sacerdotes e consagrados, disse-lhes: “Na acção apostólica e na missão, tendeis para a Jerusalém Celeste, antecipais a Igreja escatológica, firme na posse e contemplação amorosa de Deus-Amor. Como é grande, hoje, a necessidade deste testemunho! Muitos dos nossos irmãos vivem como se não houvesse um Além, sem se importar com a própria salvação eterna. Os homens são chamados a aderir ao conhecimento e ao amor de Deus, e a Igreja tem a missão de os ajudar nesta vocação. Bem sabemos que Deus é senhor dos seus dons; e a conversão dos homens é graça. Mas somos responsáveis pelo anúncio da fé, da totalidade da fé, e das suas exigências” (12).
Neste aspecto, ler os “sinais” é ter a coragem de rever a qualidade e o ritmo da formação cristã no seu todo, desde a catequese à pregação.
Nas respostas a dar a esta busca do sentido, adaptadas a cada geração, sou particularmente sensível ao universo juvenil. No seu todo eles buscam respostas, sem sequer rejeitar aprioristicamente a resposta de Jesus Cristo, mas não a encontram nas respostas da Igreja, ou porque nem sequer a escutam ou porque não a compreendem. É preciso dar-lha de forma que a compreendam e lhes toque o coração. O Papa falou-lhes e comoveu muitos: “Jovens amigos, Cristo está sempre connosco e caminha sempre com a sua Igreja, acompanha-a e guarda-a, como Ele nos disse: «Eu estou sempre convosco, até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20). Nunca duvideis da sua presença! Procurai sempre o Senhor Jesus, crescei na amizade com Ele, comungai-O. Aprendei a ouvir e a conhecer a sua palavra e também a reconhecê-l’O nos pobres. Vivei a vossa vida com alegria e entusiasmo, certos da sua presença e da sua amizade gratuita, generosa, fiel até à morte de cruz. Testemunhai a alegria desta sua presença forte e suave a todos, a começar pelos da vossa idade. Dizei-lhes que é belo ser amigo de Jesus e que vale a pena segui-l’O. Com o vosso entusiasmo, mostrai que, entre tantos modos de viver que hoje o mundo parece oferecer-nos – todos aparentemente do mesmo nível –, só seguindo Jesus é que se encontra o verdadeiro sentido da vida e, consequentemente, a alegria verdadeira e duradoura” (13). Ler os “sinais” é aceitar o desafio de rever profundamente a nossa pastoral juvenil.

Atenção amorosa ao sofrimento dos nossos irmãos7.- No texto da Gaudium et Spes, ler os “sinais” faz-se numa atenção privilegiada ao sofrimento humano, aos aspectos por vezes dramáticos da vida de tantos homens e mulheres do nosso tempo. É assim que começa a Constituição Pastoral: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens deste tempo, sobretudo dos pobres e daqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (14).
A cultura contemporânea tende a mitigar ou mesmo a esconder estas angústias e tristezas, porque se criou o paradigma de uma organização social que tudo resolve. A Igreja deve ser a aliada natural de quem sofre, a doença, a pobreza, a solidão, não apenas para os servir mas para aprender com eles o que significa o “Evangelho anunciado aos pobres”.
A resposta social da Igreja é, como sabemos, volumosa e estruturada. Não é agora o momento de a analisar. Quero apenas referir dois desafios que nos deixou o Santo Padre: a prática da compaixão e a análise das nossas instituições sociais, em busca da sua especificidade e autenticidade evangélica. Aconselha-nos a ter a atitude do bom samaritano. Há um modo próprio de os cristãos se abeirarem do sofrimento dos irmãos: ter “um coração que vê”, um coração que vê onde há necessidade de amor e age em consequência (15). A pastoral da caridade é uma pastoral de proximidade, de vizinhança. É perante a circunstância concreta de uma pessoa que tem nome, que o coração do cristão se comove.
As nossas estruturas, dando relevo aos aspectos organizativos e de competência técnica, podem ofuscar este “coração que vê”. O Santo Padre alertou-nos para isso: “Muitas vezes, porém, não é fácil conseguir uma síntese satisfatória da vida espiritual com a acção apostólica. A pressão exercida pela cultura dominante, que apresenta com insistência um estilo de vida fundado sobre a lei do mais forte, sobre o lucro fácil e fascinante, acaba por influir sobre o nosso modo de pensar os nossos projectos e as perspectivas do nosso serviço, com o risco de esvaziá-los da motivação da fé e da esperança cristã que os tinha suscitado. Os pedidos numerosos e prementes de ajuda e amparo que nos dirigem os pobres e marginalizados da sociedade impelem-nos a buscar soluções que estejam na lógica da eficácia, do efeito visível e da publicidade. E todavia a referida síntese é absolutamente necessária para poderdes, amados irmãos, servir Cristo na humanidade que vos espera. Neste mundo dividido, impõe-se a todos uma profunda e autêntica unidade de coração, de espírito e de acção” (16).
E o Papa não hesita em pedir-nos que façamos uma profunda reflexão sobre as nossas instituições, que pretendem ser a expressão da caridade da Igreja: “No meio de tantas instituições sociais que servem o bem comum, próximas de populações carenciadas, contam-se as da Igreja Católica. Importa que seja clara a sua orientação de modo a assumirem uma identidade bem patente: na inspiração dos seus objectivos, na escolha dos seus recursos humanos, nos métodos de actuação, na qualidade dos seus serviços, na gestão séria e eficaz dos meios. A firmeza da identidade das instituições é um serviço real, com grandes vantagens para os que dele beneficiam. Passo fundamental, além da identidade e unido a ela, é conceder à actividade caritativa cristã autonomia e independência da política e das ideologias (cf. Bento XVI, Enc. Deus caritas est, 31 b), ainda que em cooperação com organismos do Estado para atingir fins comuns” (17).

Aceitemos o desafio da Gaudium et Spes8.- A leitura dos sinais dos tempos não pode ser, apenas, um tema sugestivo e interessante. É, sobretudo, um desafio profético de quem reage com amor à realidade da história. É a solicitude salvífica que nos faz estar atentos, à espreita, para captar “sinais”, aberturas à mensagem de salvação. “Sinais dos tempos”, são alertas emitidos da profundidade da realidade humana e do âmago da nossa história. Não são conclusões sociológicas, mas “sinais” do Reino. Como dizia o P. Congar, naqueles tempos conciliares, é o homem, na sua realidade, a bater à porta da Igreja, pedindo-lhe que lhe abra o Evangelho na página que ele precisa de ler naquele momento. A sua própria realidade torna-o capaz de a escutar.
Procurar novos caminhos de renovação pastoral é incompleto sem esta ousadia profética, embora saibamos que, como o oráculo profético, a leitura dos “sinais dos tempos” não é programável nem previsível. Conseguimos apenas identificar as características da fé e da vida eclesial que hão-de tornar possível essa leitura.
Antes de mais temos de ter consciência, sobretudo nós os clérigos, que a Igreja é o Povo de Deus, que os leigos têm um papel decisivo na renovação da Igreja e que também são chamados a ler os “sinais”. Isto exige de nós, pastores, que inculquemos neles a paixão por Jesus Cristo, a urgência da salvação, a ousadia da santidade. O Papa disse-nos isso, a nós Bispos, acerca dos leigos de quem somos pastores: “Mantende viva a dimensão profética sem mordaças no cenário do mundo actual, porque «a palavra de Deus não pode ser acorrentada» (2Tm 2, 9). As pessoas clamam pela Boa Nova de Jesus Cristo, que dá sentido às suas vidas e salvaguarda a sua dignidade. Como primeiros evangelizadores, ser-vos-á útil conhecer e compreender os diversos factores sociais e culturais, avaliar as carências espirituais e programar eficazmente os recursos pastorais; decisivo, porém, é conseguir inculcar em todos os agentes evangelizadores um verdadeiro ardor de santidade, cientes de que o resultado provém sobretudo da união com Cristo e da acção do seu Espírito” (18).
A proclamação da fé, a nossa e a de todos os cristãos, tem de ter a força de um testemunho. Mais uma vez, a palavra do Santo Padre: “Quando no sentir de muitos a fé católica deixa de ser património comum da sociedade e, frequentemente, se vê como uma semente insidiada e ofuscada por «divindades» e senhores deste mundo, muito dificilmente aquela poderá tocar os corações, graças a simples discursos ou apelos morais e menos ainda a genéricos apelos aos valores cristãos. O apelo corajoso e integral aos princípios é essencial e indispensável. Todavia a mera enunciação da mensagem não chega ao mais fundo do coração da pessoa, não toca a sua liberdade, não muda a vida. Aquilo que fascina é sobretudo o encontro com pessoas crentes que, pela sua fé, atraem para a graça de Cristo dando testemunho d’Ele” (19).
É preciso restituir à Igreja o seu dinamismo pastoral, isto é, fazer da Igreja toda sacramento da bondade de Cristo Pastor. A pastoral não é apenas a arte de programar, mas a manifestação, no concreto da história, do amor de Jesus Cristo pelos homens. Mas é decisivo que os sacerdotes redescubram, no exercício do seu ministério, o modelo do Pastor. Trabalhamos mais do que amamos, criamos estruturas mas quando as pessoas precisam do pastor, nós estamos ocupados. Como diz João no Apocalipse, escutemos o que Cristo diz aos pastores das Igrejas (cf. Apoc. 1,19 e 2,1ss).

Fátima, 16 de Junho de 2010

†JOSÉ, Cardeal-Patriarca

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NOTAS:

1 - Gaudium et Spes, n.º 3
2 - Ibidem, n.º 4
3 - Ibidem, n.º 11
4 - Ibidem
5 - Bento XVI em Portugal, Discurso no Aeroporto da Portela, 11 de Maio de 2010
6 - Ibidem
7 - Bento XVI, diálogo com os Jornalistas durante o Voo para Portugal, 11 de Maio de 2010
8 - Bento XVI, Discurso no Encontro com os Bispos de Portugal, Fátima, 13 de Maio de 2010
9 - Bento XVI em Portugal, Discurso no Aeroporto da Portela, 11 de Maio de 2010
10 - Bento XVI, diálogo com os Jornalistas durante o Voo para Portugal, 11 de Maio de 2010
11 - Gaudium et Spes, n.º 4
12 - Bento XVI, Discurso na Celebração das Vésperas com os Sacerdotes, Religiosos, Seminaristas e Diáconos, Fátima, 12 de Maio de 2010
13 - Bento XVI, Homilia da Missa no Terreiro do Paço, Lisboa, 11 de Maio de 2010
14 - Gaudium et Spes, n.º 1
15 - Bento XVI, Encontro com as Organizações da Pastoral Social, Fátima, 13 de Maio de 2010
16 - Ibidem
17 - Ibidem
18 - Bento XVI, Discurso no Encontro com os Bispos de Portugal, Fátima, 13 de Maio de 2010
19 - Ibidem

[ Documentos D. José Policarpo 2010-06-16 11:02:16 Conferência Episcopal Portuguesa ]"

O Insucesso escolar. Afinal a culpa não é dos professores

Contrariamente ao que às vezes se apregoa, não só em Portugal mas pelo mundo inteiro, parece que os alunos portugueses e de ascendência portuguesa resistem ao estudo. As causas estão nos pais que pouco ou nada os apoiam.
Estes estudos foram publicados no jornal "O Público" que com o devido respeito aqui reproduzo.



"São marcas que continuam a acompanhar os portugueses. Cá dentro, Portugal tem a segunda taxa mais elevada de abandono escolar precoce da União Europeia.
Lá fora, os filhos dos emigrantes portugueses continuam a desistir. No Luxemburgo, um em cada quatro alunos que abandona a escola secundária é português, dá conta um estudo do Ministério da Educação luxemburguês, ontem divulgado pela agência Lusa.
"Entre os estudantes estrangeiros que frequentam o ensino secundário naquele país, os portugueses são os que apresentam a maior taxa de abandono escolar.
No último ano lectivo, estavam inscritos nas escolas públicas 7046 portugueses. Desistiram 454, o que representou um aumento de cinco por cento em relação ao ano anterior. Os alunos portugueses representam 19,1 por cento da população estudantil do Luxemburgo. São o maior grupo entre os estrangeiros que estudam naquele país.
"A outra face da mesma moeda: dados recentes mostram que, nos EUA, Canadá, Grã-Bretanha e Suíça, os filhos dos emigrantes portugueses estão também entre os que obtêm resultados escolares mais baixos entre as comunidades estrangeiras. ( !!! )
Para Hermano Sanches Ruivo, responsável pela primeira associação de luso-descendentes criada na Europa, a Cap Magellan, a reprodução desta situação deve-se em grande parte ao facto de muitas famílias continuarem a não valorizar o papel da educação.
"Para muitos, educação é os filhos fazerem o que eles fizeram", comenta ao PÚBLICO.
"Não têm tempo para acompanhar os filhos, não gastam dinheiros em aulas suplementares para compensar atrasos. Os jovens, por seu lado, têm como preocupação começar a trabalhar o mais rapidamente possível."
"Também o organismo que coordena os serviços escolares na Suíça (CDIP) apontou, em 2007, o dedo às famílias. Os fracos resultados escolares das crianças portuguesas devem-se "ao desinteresse total dos pais em acompanhar" a educação dos filhos e à "origem sócio-cultural modesta" destes, afirmava-se num documento que suscitou a indignação dos representantes portugueses naquele país.

"Sanches Ruivo, que foi o primeiro luso-descendente a ser eleito para a Câmara de Paris, considera que a responsabilidade desta performance negativa recai também sobre os sucessivos governos portugueses. Tem sido feito muito pouco para promover a língua portuguesa, constata. Um resultado: em França, apenas 30 mil pessoas estão a aprender português, os estudantes de italiano são quase 300 mil, os de espanhol três milhões.

SÃO COINCIDÊNCIAS A MAIS. Os sistemas educativos do Luxemburgo, Canadá, Reino Unido, Suíça, França e Portugal, sendo muito diferentes - e alguns deles muito prestigiados internacionalmente - apresentam os mesmos dois problemas com os alunos portugueses: Abandono escolar e insucesso...
Não seria de explorar a possibilidade de estarmos perante um problema cultural de fundo, dos portugueses em relação à escola e à necessidade do estudo ?
Andou o Ministério da Educação, nos últimos anos, sob a liderança de Maria de Lurdes Rodrigues, com o beneplácito de um agradecido José Sócrates, com o apoio propagandístico de alguns "opinadores", como Emídio Rangel ou Miguel Sousa Tavares, a despejar sobre a opinião pública a ideia de que os professores portugueses eram uma espécie de crápulas, responsáveis pelo abandono escolar e pelos maus resultados dos alunos, para vir agora um estudo do Ministério da Educação do Luxemburgo revelar que são os estudantes portugueses naquele país os que registam mais abandono escolar e piores resultados.
Afinal, como prova esse estudo, reforçado por situação idêntica noutros países, como os Estados Unidos, o Canadá, a Grã-Bretanha e a Suiça, o facto das famílias portuguesas emigrantes não valorizarem o estudo e o ensino, está na origem do abandono escolar e dos maus resultados.
Ou seja, em sistemas de ensino diferentes, com condições de trabalho e formação dos professores diversos, o resultado é sempre o mesmo em relação aos estudantes portugueses: alto índice de abandono e fracos resultados escolares.
Apontam ainda aqueles estudos como principais responsáveis pela situação as famílias que não valorizam os estudos. Obviamente que em Portugal a razão é a mesma.
Depois da divulgação desta notícia, só por má-fé, ignorância e/ou inveja social é que o "bando" de Maria de Lurdes , os "opinadores" do costume e o "paizinho" Albino Almeida, podem continuar a despejar sobre a opinião pública a ideia da "culpa dos docentes" pelo estado do ensino indígena.
De facto existe na sociedade portuguesa uma tendência generalizada para desvalorizar o estudo, o esforço intelectual e a responsabilidade das famílias na educação dos filhos.
O ataque desferido nos últimos anos à classe docente tem contribuído para agravar ainda mais essa situação.
Num país onde "opinadores", economistas e políticos transmitem como imagem de valorização pessoal e económica, actividades como a especulação financeira e imobiliária, o futebol e os concursos de fama efémera, não é de admirar que se desvalorize socialmente o conhecimento e a aprendizagem.
Basta olhar para os escaparates dos quiosques para percebermos isso: existe uma imensidão de publicações dedicadas ao futebol, à vida cor-de-rosa de famosos por serem famosos, ou à divulgação de truques financeiros para enriquecer rapidamente.
Por exemplo, se alguém quiser encontrar uma revista de Cultura, de Arte ou de História, de edição regular, só recorrendo à imensidão de publicações espanholas ou francesas de boa qualidade.
O Jornal de Letras é a excepção, mesmo assim sobrevivendo com dificuldades e quinzenalmente. O Blitz, para sobreviver, teve de passar a revista mensal.
Perante esta realidade até poderíamos ter o melhor sistema de ensino do mundo, que os resultados pouco mudariam.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Abraços

Já há tempos atrás, fiz aqui referências à importância de um abraço e da proximidade que pode criar junto dos outros.
Através desta canção muito linda e inspiradora, Miguel Gameiro consegue tocar no sentimento de muita gente. No meu caso, fez-me lembrar o rapaz Miguel, ainda adolescente e a dar os primeiros passos no conjunto "Polo Norte".
Pela caminhada que fez, deixo-lhe, por esta via, a minha sincera homenagem.
Ao produtor "Careca productions", os meus agradecimentos por ter juntado a letra à música e as lindas imagens que lhe associou.
Para todos o meu abraço.
Aníbal Carvalho

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terça-feira, 18 de maio de 2010

PORTUGAL - visto pela TVE

ESTE TRABALHO DA TVE É NOTÁVEL. ATÉ PARECE QUE ESTE RECTÂNGULO É MESMO UM JARDIM À BEIRA-MAR PLANTADO!
O TEXTO ESTÁ MUITO BEM ESCRITO E ATÉ O CASTELHANO DO LOCUTOR É MARAVILHOSO.VALE A PENA GUARDAR.
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Vale o tempo gasto. Quando tiverem tempo vejam este documentário incrível, feito pela televisão espanhola (TVE), sobre Portugal.
Tem imagens fantásticas, esplendorosas, magníficas. Deixam-nos cheios de orgulho por termos um país tão bonito.O documentário tem 56 minutos e começa no Algarve. Segue para o Norte, Alentejo, Centro e Lisboa (os minutos por localidades estão mais embaixo). Não há memória de um trabalho tão fenomenal e completo na nossa televisão.

Ponte Lima 9,00 /
Douro 13 /
Porto 15 /
Alentejo 22 /
Évora 22,41 /
Marvão 25,57 /
Castelo Vide 26,55 /
Costa Alentejo 28 /
Alcácer 29 /
Aveiro 30 /
Viseu 33 /
Museu Grão Vasco 34 /
Coimbra 35,50 /
Termas de Monfortinho 40,47 /
Monsanto 41,57 /
Penha Garcia 42,45 /
Batalha44,26 /
Sintra 46 /
Torre Belém 48,16 /
Pastéis Belém 53,15 /
Bairro Alto53,58 /
Cabo Roca 56, 07
Sítio do endereço:
http://www.rtve.es/alacarta/la2/ultimos/index.html#659940

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Ataques contínuos e sistemáticos à Igreja Católica

João César das Neves é um professor catedrático da UCP na área da economia, mas ao mesmo tempo um grande pensador sobre as verdades da fé, e por isso, não se conforma facilmente com injustiças e meias verdades e muito menos com o "branqueamento" que muitas vezes se quer fazer de situações da história recente ou mesmo longínqua.
Com o devido respeito, publico aqui um texto sobre alguns ataques à Igreja Católica, e que foi publicado em primeira mão no Diário de Notícias do dia 12.04.2010 sob o tema: "a nona bem-aventurança".
Aníbal Carvalho

"Um dos fenómenos mais espantosos da história da humanidade é o ataque à Igreja.Esse processo, tão aceso estes dias, é sempre muito curioso. Primeiro pela duração e persistência.
Há 2000 anos que os discípulos de Cristo são perseguidos, como o próprio Jesus profetizou.E cada ataque, uma vez começado, permanece.
A Igreja é a única instituição a que se assacam responsabilidades pelo acontecido há 100, 500 ou 1500anos. Os cristãos actuais são criticados pela Inquisição do século XVII, missionação ultramarina desde o século XV, cruzadas dos séculos XI-XIII, até pela política do século V (no recente filme Ágora, de Alejandro Amenábar, 2009). Depois, como notou G. K. Chesterton em 1908, o cristianismo foi atacado "por todos os lados e com todos os argumentos, por mais que esses argumentos se opusessem entre si"(Orthodoxy, c. VI).
Vemos criticar a Igreja por ser tímida e sanguinária, pessimista e ingénua, laxista e fanática, ascética e luxuosa, contra o sexo e a favor da procriação, etc. Mas o mais espantoso é que os ataques conseguem convencer-nos daquilo que é o oposto da evidência mais esmagadora.
Os iluministas provaram-nos que a religião cristã é a principal inimiga da ciência; supersticiosa, obscurantista, persecutória do estudo e investigação rigorosos.
A evidência histórica mostra o inverso.
A dívida intelectual da humanidade à Igreja é enorme. Devemos a multidões de monges copistas a preservação da sabedoria clássica. Quase tudo o que sabemos da Antiguidade pagã veio dos mosteiros.Foi a Igreja que criou as primeiras universidades e o debate académico moderno.Eram cristãos devotos os grandes pioneiros da ciência, como Kepler, Pascal, Newton, Leibniz, Bayes, Euler, Cauchy, Mendel, Pasteur, etc. Até o caso de Galileu, sempre citado e distorcido, mostra o oposto do que dizem.
Depois, os jacobinos asseguraram-nos que a Igreja é culpada de terríveis perseguições religiosas, étnicas e sociais, destruição cultural de múltiplos povos, amiga de fogueiras e câmaras de tortura, chacinas, saques e genocídios. No entanto, a evidência de 2000 anos de história real de cristãos concretos é de caridade, mediação, pacifismo.Tudo o que o nosso tempo sabe de direitos humanos, diplomacia, cooperação e tolerância foi bebê-lo a autores cristãos.
A seguir, os marxistas vieram atacar a Igreja por ser contra os proletários e a favor dos ricos. Quando é evidente o cuidado permanente, multissecular e pluricultural dos cristãos pelos pobres e infelizes, e as maravilhas sociais da solidariedade católica no apoio aos desfavorecidos.
Vivemos hoje talvez o caso mais aberrante: a Igreja é condenada por... pedofilia. A queixa é de desregramento sexual, deboche, perversão. Mas a evidência histórica mostra que nenhuma outra entidade fez mais pelo equilíbrio da sexualidade e a moralização da vida pessoal da humanidade. Mais uma vez, o ataque nasce do oposto da verdade. Serão as acusações contra a Igreja falsas? Elas partem sempre de um núcleo verdadeiro. Houve cristãos obscurantistas, persecutórios, cruéis, injustos, luxuosos, como hoje há padres pedófilos. Aliás, em 2000 anos de história, e agora com mais de mil milhões de fiéis, tem de haver de tudo.A distorção está na generalização ao todo de casos particulares aberrantes. Não sendo tão má quanto o mito, a Inquisição foi péssima. Mas a Inquisição não representa a Igreja e a própria Igreja da época a condenou. Os críticos nunca combatem os erros, sempre a instituição. Hoje não se ataca a pedofilia na Igreja, mas a Igreja pedófila. A razão do paradoxo é clara. Cada época projecta na Igreja os seus próprios fantasmas. Ninguém atropelou mais o rigor científico que os iluministas. Ninguém foi mais sangrento que os jacobinos. Ninguém gerou maior pobreza que os marxistas. Ninguém tem mais desregramento sexual que o nosso tempo. O ataque à Igreja é uma constante histórica. A História muda. A Igreja permanece. Porque ela é Cristo. Dela é a nona bem-aventurança: "Bem-aventurados sereis quando vos insultarem e perseguirem" (Mt 5, 11)."

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Valores? Que Valores?

Hoje em dia fala-se muito em valores ou na sua ausência. De facto, todos somos culpados do estado em que se encontram as coisas no que se refere à formação, sobretudo dos jovens, para os valores.
Todos sabemos que os grandes males pessoais e da humanidade resultam dos erros por não termos sabido hierarquizar devidamente o que é importante nos momentos cruciais de decidir.
Para nos ajudar a reflectir melhor neste problema, apresento aqui o ponto de vista de Fernando Pascual através do seu artigo publicado no Fórum Libertas e que tomei a liberdade de traduzir do Castelhano para Português. Ao autor os meus agradecimentos.
Aníbal Carvalho


“Educação para os valores está na moda. A família e a escola, governos e diversos grupos sociais procuram ensinar e promover os valores entre as pessoas, especialmente entre crianças, adolescentes, jovens e também entre adultos.
A pergunta fundamental é esta: que valores? A lista de valores poderá ser enorme. Há também valores que são mais apreciados por alguns povos e culturas, enquanto os outros são menos apreciados. Os valores ensinados no passado não são os mesmos ensinados no presente.
Para responder à questão, é necessário esclarecer o que é “valor”. Trata-se de uma propriedade ou dimensão que nós descobrimos em “algo” e que aperfeiçoa aqueles que escolhem "essa coisa".
A definição é intencionalmente abstracta. Damos alguns exemplos. João e Matilde estão com fome. No frigorífico têm queijo e presunto, tomate e peixe congelado. Cada um desses alimentos pode satisfazer, de diferentes maneiras, a fome do João e Matilde. Para eles é importante começar a comer. Além disso, se qualquer destes alimentos é mais saudável e ajuda a conseguir uma dieta imposta pelos médicos, o seu valor “aumenta”, mas a comida mudou, porque “melhora ou aperfeiçoa” quem melhor come atendendo à sua situação particular.
Por outras palavras mais simples, o valor de “alguma coisa” (um objecto, uma ideia, um acto, uma pessoa) consiste em aperfeiçoar alguém que tem o poder de escolher “algo” e sobretudo depende de quem é esse alguém, que escolhe esse “algo”.
Assim facilmente nos apercebemos que há um número enorme de valores. A bola tem um valor muito grande para milhares de crianças, enquanto pouco interesse para muitos idosos. A cor da janela é um grande valor para os recém-casados. O trabalho feito com prazer é um valor para o agricultor, o funcionário ou um motorista de camião. A participação na igreja aos Domingos é um valor para os católicos que querem viver seriamente sua fé.
Entre a multidão de valores, descobrimos que alguns são mais importantes, mais harmoniosos e mais nobres, porque chegam ao centro do coração humano. Outros valores, no entanto, são de menor importância, porque eles são periféricos, ou porque produzem resultados muito pobres (o prazer é efémero e a satisfação vã e por isso empobrecem quem escolhe esses valores), ou porque satisfazem o desejo mas prejudicam outras dimensões mais profundas do ser humano. Não será um valor arranjar mais dinheiro? No entanto não o será se for conseguido à custa do prejuízo de terceiros ou através de uma fraude.
As diferenças entre os valores permitem que se faça uma hierarquia entre si. Há valores mais importantes e mais acessórios. Há valores que alcançam o espírito e os outros que olham sobretudo para o corpo. Há valores que promovem a unidade e harmonia entre os homens e outros que levam ao egoísmo e à violência. Há valores que só servem para a vida terrestre e outros que permanecem para a vida após a morte.
Quando entendemos o que é um valor, descobrimos que, quase sempre, lhe está associado um "anti-valor" ou "contravalor". O valor da solidariedade no contra-valor é a falta de solidariedade. O valor do respeito, um correspondente anti-valor no desprezo, etc.
Ao longo do século XX, alguns filósofos elaboraram listas de valores e estabeleceram uma escala deles. Por exemplo, para José de Finanças (1904-2000), podemos classificar os valores nestes grupos:

a. Valores infra-humanos: são realidades que se aplicam aos seres humanos na sua dimensão mais periférica. Por exemplo, o prazer, a força física, a saúde. Como já dissemos, cada um destes valores tem seus valores negativos (dor, fraqueza, doença, etc)...
b. Valores económicos e "hedonistas" que se referem a realidades em que o homem acredita poder obter lucro ou benefício ou em poder atingir outros objectivos. Por exemplo, o valor de prosperidade, sucesso, dinheiro, etc.
c. Valores espirituais: são realidades que valem a pena porque elas permitem ao homem satisfazer os seus desejos mais profundos como pessoa, tal como conhecer e amar. Aqui encontramos os seguintes conjuntos de valores: do conhecimento (verdade, perspicácia, memória), da experiência estética (a beleza), da vida social (coesão, harmonia, solidariedade). Também aqui entram os valores da vontade e da escolha (força de carácter, perseverança). Alguns destes valores temo-los de forma quase espontânea, outros só podem ser alcançados após um longo processo de treino e esforço.
d. Os valores morais: são valores que tocam o ser humano nas profundezas de si mesmo, no uso da sua liberdade, na sua responsabilidade. A lista poderia ser longa, mas podemos mencionar os seguintes: a bondade do coração, a seriedade, sinceridade, autenticidade, fidelidade, diligência, lealdade, solicitude, apoio, generosidade, justiça, honestidade, gratidão, etc.
e. Os valores religiosos: estes são valores que se referem ao nosso relacionamento com Deus. Aqui podemos citar, por exemplo, o valor da oração, a devoção, adoração, etc.
Se olharmos para alguns programas de educação para os valores, percebemos imediatamente a ausência de muitos dos valores que acabámos de mencionar, e na presença de outros valores que são importantes, mas que não são essenciais para a vida humana.
Por exemplo, fala-se muito de tolerância, respeito, abertura, diálogo. Mas esquecemo-nos que cada um desses valores (por vezes virtudes) está relacionado, ou dependem de outros valores, (e virtudes) sem os quais nada é conseguido.
Noutras circunstâncias, há alguma confusão, pois surgem como valores mais elevados sendo mais baixos, ou até mesmo chegar a misturar uns com outros ou até com anti-valores. Por exemplo, falar do valor do sexo, como se qualquer acto sexual devesse ser “valorizado” pelo facto de produzir prazer, é não só é ineficaz, mas muitas vezes prejudicial e pode levar a consequências dramáticas na promoção da devassidão e da toxicodependência (dois anti-valores) em bastantes adolescentes.
Uma sociedade que faz da beleza física e da linha (aparecer perante os outros com uma figura juvenil), da força ou do dinheiro os valores mais importantes, perdeu a cabeça e segue na direcção de uma profunda decadência, com consequências devastadoras para a vida de milhares de pessoas.
Para evitar tais erros, qualquer autêntica educação para os valores necessita de reflectir seriamente sobre o que é o homem e sobre os bens valiosos que lhe permitem desempenhar a sua existência humana de maneira justa e boa. Só um bom estudo antropológico pode reconhecer a hierarquia de valores que coloca tudo no seu devido lugar.
Os valores morais e religiosos são e devem ser os mais importantes porque eles se referem à dimensão crítica da existência humana: a sua relação temporal e eterna com Deus e com outros seres humanos. Depois, são os valores espirituais, que incluem a disciplina mental para aceder à verdade, para a “manter” com boa memória e expressar-se de forma clara e honesta. A força da vontade que permite trabalhar, estudar ou em mil actividades da vida familiar, a solidariedade, que leva os homens a unir os seus esforços na construção de um mundo mais acolhedor, a justiça, que permite não só respeitar os acordos ou os direitos dos outros, mas sobretudo quando são escamoteados... A lista poderia ser muito longa, mas dá uma ideia de como é urgente desenvolver programas de formação para os valores.
Uma sociedade que sabe propor e concluir um programa exigente de valores, apoiados e vividos desde a educação para a virtude, permitirá que as crianças, adolescentes, adultos jovens e pessoas já maduras possam em cada dia das suas vidas, viver abertos aos outros, se preparem seriamente para os objectivos que cada um decidir, sempre, no verdadeiro sentido do bem de cada um de nós, ou seja, o encontro eterno com Deus. Não deverá ser esse o sinal que temos para oferecer para um bom programa de formação para os valores?”

quinta-feira, 11 de março de 2010

Procura-se um amigo

Não poderia estar mais de acordo com o autor, o fantástico Vinicius de Morais. Amigo é assim mesmo.

"Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimento, basta ter coração.
Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir.
Tem que gostar de poesia, da madrugada, de pássaros, de sol, da lua, do canto dos ventos e das canções da brisa.
Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.
Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo.
Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão.
Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados.
Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar.
Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa.
Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objectivo deve ser o de amigo.
Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.
Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando chamado de amigo.
Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações da infância.
Precisa-se de um amigo para não enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque avida é bela, mas por que já se tem um amigo.
Precisa-se de um amigo para se parar de chorar.
Para não viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas.
Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que nos chame de amigo,para ter-se a consciência de que ainda se vive."

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Sabedoria de esperar

No compasso do nosso dia a dia, a pressa leva-nos, tantas vezes, aos maus juízos e à precipitação.

Atentemos a esta proposta da filosofia tibetana.


"Olhei ao longe e vi que qualquer coisa se movia.
Aproximei-me um pouco e vi que era um animal.
Aproximei-me mais ainda e vi que era um homem.
Reaproximei-me um pouco mais ainda e vi que era o meu irmão."

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Fazer tábua rasa

Muitas vezes utilizamos certas expressões e não sabemos muito bem o seu real significado.
A expressão "fazer tábua raza" é uma delas e para que melhor a possam utilizar aqui vai um pequeno contributo.

Significado: Esquecer completamente um assunto que se está a abordar para recomeçar em novas bases como se aquele não tivesse existido.
Origem: Na sua origem no latim, a tabula rasa ou a tábua rasa, correspondia a uma tabuinha de cera onde nada estava escrito. A expressão foi tirada, pelos empiristas, de Aristóteles, para assim chamarem ao estado do espírito que, antes de qualquer experiência, estaria, em sua opinião, completamente vazio e na qual tudo seria possível escrever a partir da experiência adquirida. Também John Locke (1632-1704 ), pensador inglês, em oposição a Leibniz e Descartes, partidários do inatismo, afirmava que o homem não tem nem ideias nem princípios inatos, mas sim que os extrai da vida, isto é, da experiência. «Ao começo», dizia Locke, «a nossa alma é como uma tábua rasa, limpa de qualquer letra e sem ideia nenhuma. "Tabula rasa in qua nihil scriptum". Como adquire, então, as ideias? Muito simplesmente pela experiência.»
Como vemos a tábua rasa corresponde ao vazio e à ausência de conhecimento.
Por isso fazer tábua rasa é ignorar completamente tudo o que é dito ou proposto tal como se não soubessemos nada acerca de tal assunto.

Aníbal Carvalho

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

COMO REDUZIR UMA ESPÉCIE

Tem-se falado muito sobre o pretenso "casamento" de homossexuais e lésbicas, mas pouco se tem dito sobre algumas das consequências desse tipo acasalamento. Para além das éticas e morais há outras com grandes repercursões sociais e políticas e até da preservação da própria espécie humana, pelo menos é o que poderá acontecer se todos fizerem opções semelhantes.
A propósito disso, recebi um texto brilhante de uma grande amiga e que com a sua autorização aqui deixo transcrito.
Aníbal Carvalho


"COMO REDUZIR O NÚMERO DE ELEMENTOS DE UMA ESPÉCIE.

Pensemos juntos.
Se quisessemos reduzir drasticamente o número de elementos de uma espécie o que faríamos?
Matávamo-los um a um, criteriosamente como quem caça pulgas...?
Não, isso seria demasiado repugnante e demorado. Além disso corríamos o risco de haver alguma comissão de defesa da espécie, suficientemente poderosa e eficaz, que actuasse a tempo!
Arranjávamos um contaminante biológico, difundíamo-lo de forma controlada e esperávamos?
Não, isso seria demasiado perigoso e nunca se pode saber exactamente se não ocorreria uma mutação e lá se ia o controlo e quiçá seríamos também nós afectados!
Podemos sempre enveredar por uma solução de massas, como seja promover confrontos entre tribos?
Não, a história demonstra que isso seria demasiado caro e em particular teria um custo político muito elevado.
Podemos sempre dar-lhes contraceptivos!?
Bem, isso era uma boa solução, mas há sempre alguns que não os tomam e o processo acaba por se arrastar... a menos que a isso associassemos uma diversão comportamental.
Porque não fazer-lhes crer que as experiências homo são legítimas e muito mais estimulantes?
É isso! Em menos de duas/três gerações temos o número de membros da espécie reduzida a valores economicamente viáveis. E mais, sem custos adicionais. BINGO!!!

O poder económico e político controla as mentes e quer fazer-nos crer que tomam atitudes liberais e modernistas. Para já, é apenas “fait divers” mas dentro de alguns anos, entre SIDA, homossexualidade e contraceptivos a humanidade estará reduzida a uma população de alguns poucos “lideres”, muitos “clones” e vestigíos de velhos com Alzheimer.
Porque será que não nos revoltamos contra a exterminação da nossa espécie enquanto podemos? Ou já não podemos?
Podemos ainda, basta ser lúcido e querer!!!
MFC"

sábado, 2 de janeiro de 2010

Ano Novo, que política???!!!

O Ano Novo ainda agora começou. O Senhor Presidente da República falou ao país e disse de sua justiça.
Enumerou as imensas lacunas dos últimos "desgovernos". Salientou a forma como muitos se servem da política, não para governar, mas para "se governarem". Aqui incluem-se todos os órgãos de poder desde do Parlamementar, ao Governativo e até ao Judicial.
No entanto, se olharmos a nossa História, parece que este tipo de situação e de actuação não são exclusivos desta época, mas têm-se repercutido noutros momentos específicos. Alíás, se olharmos para este texto de Guerra Junqueiro e que já tem 113 anos, vemos que ou não se evoluiu nada ou se retrocedeu muito. A mim, parece-me que foi este último caso.
Por isso estas palavras assentam que nem uma luva aos tempos de hoje, sobretudo no que se refere aos nossos políticos.
Aníbal Carvalho

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política,torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro, 1896.