sábado, 2 de janeiro de 2010

Ano Novo, que política???!!!

O Ano Novo ainda agora começou. O Senhor Presidente da República falou ao país e disse de sua justiça.
Enumerou as imensas lacunas dos últimos "desgovernos". Salientou a forma como muitos se servem da política, não para governar, mas para "se governarem". Aqui incluem-se todos os órgãos de poder desde do Parlamementar, ao Governativo e até ao Judicial.
No entanto, se olharmos a nossa História, parece que este tipo de situação e de actuação não são exclusivos desta época, mas têm-se repercutido noutros momentos específicos. Alíás, se olharmos para este texto de Guerra Junqueiro e que já tem 113 anos, vemos que ou não se evoluiu nada ou se retrocedeu muito. A mim, parece-me que foi este último caso.
Por isso estas palavras assentam que nem uma luva aos tempos de hoje, sobretudo no que se refere aos nossos políticos.
Aníbal Carvalho

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política,torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro, 1896.

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