quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Sinceridade

Ser sincero é, sobretudo, continuar no caminho dos primeiros passos conscientes. Não há uma sinceridade de cada momento, mas sim a que se prolonga, se cultiva, e se vigia. Quem é sincero por jactos, faz da traição o seu valor constante. Entrega ao anoitecer o Cristo que escolheu de manhã.
Miguel Torga

As Políticas Educativas resultantes da Novas Tecnologias conduzem a "um novo vocacionalismo"

Autores como M. Castells, R. Dale, S. Stoer, A. Stoleroff e J. Correia, entre muitos outros, assumem que as últimas políticas mundiais assentam numa visão futura, que passa por direccionar as orientações educativas no sentido de que os alunos devem aprender de uma forma utilitarista, na linha do já proposto por Stuart Mill, ou seja, a aprendizagem deve ser de raiz vocacional, uma vez que será uma mais valia para o processo económico e consequentemente para o mercado de trabalho. Daí a tendência de “novo vocacionalismo”.
A política capitalista, implementada nos Estados Unidos e depois exportada para todos os países ocidentais, resultante do “fordismo”, caracteriza-se pela subordinação de todos os outros interesses presentes nos subsistemas aos interesses económicos. Para se conseguir isso é necessário que as políticas ideológicas, normativas e educativas lhes dêem suporte.

Esta tendência também se manifestou de uma forma acentuada nos anos 80, em Portugal, sobretudo após a passagem da chamada orientação ideológica que surgiu como consequência do 25 de Abril de 1974. Nesta fase, e como consequência das reformas anteriores (reforma de Seabra 83), reforçaram-se as competências do ensino de actividades manuais, no ensino básico, e dá-se uma orientação clara a nível dos cursos potencialmente profissionais e da criação de escolas específicas para o mesmo fim (escolas profissionais).
Passados 20 anos verifica-se que em termos educativos em Portugal esta não foi uma solução nem rentável nem eficaz. Os alunos que procuravam estas áreas não o faziam por opção ou vocação, mas porque eram “empurrados” para lá, pois não tinham lugar para prosseguir os estudos, que foi a “moda” em tempos e que continua actual, na convicção de que todos tinham que ter um curso superior.
Hoje, ainda continua a padecer-se do mesmo mal, no entanto há uma ligeira tendência para alterar tudo isto. As razões que a suportam não têm por base realizar as opções vocacionais, mas sobretudo qualificar com níveis de ensino alguns alunos como menos capacidades ou com menos apetências para o estudo. É o que está a acontecer com os novos cursos profissionais e com os CEF’s (cursos de educação e formação) cujo objectivo claro é levar os jovens a terminarem a escolaridade mínima obrigatória.

Questiona-se se não será esta a primeira vantagem para uma aprendizagem de qualidade de acordo com os interesses pessoais do aluno e do mercado de trabalho. Sabendo que nem todos podem ter acesso a cursos superiores para poderem especializar-se em áreas concretas, é fundamental que muitos façam uma opção clara a nível vocacional escolhendo as aprendizagens a nível do ensino secundário que lhes permita conhecimentos para acesso ao mercado de trabalho. Até aqui temos assistido a um mercado de trabalho que tem no desemprego milhares de jovens licenciados mas cujos cursos não se enquadram nas necessidades das empresas. Sabe-se que este tipo de desempregados são os que demoram mais tempo a ser absorvidos pelo mercado de trabalho e normalmente fazem coisas para as quais o curso que se tirou não foi uma mais valia para isso.

As políticas educativas não podem ficar confinadas às necessidades, aos interesses e à procura do mercado de trabalho, pois haverá sempre outras razões e motivações, sobretudo de dimensão pessoal e humana que deve orientar tais decisões.
Apesar de Portugal ser um pequeno país e ficar numa zona periférica em relação aos outros países, economicamente mais ricos e com maior poder de decisão, em termos das organizações internacionais como a OIT, ONU etc., onde se tomam decisões capazes de fazer alterar o percurso das coisas, sofreu e de que maneira, esta tendência do novo vocacionalismo, tal como acabámos de ver.
Esta opção, se bem que possa ter algumas vantagens, terá a meu ver muitos inconvenientes. Em primeiro lugar limita a visão universalista que o ser humano deverá ter, depois impede ao jovem estudante um desenvolvimento de outras competências e conhecimentos que indubitavelmente estariam ligados a um processo mais amplo e diversificado.
A Agenda de Lisboa 2000 veio trazer uma nova esperança no sentido de poder qualificar todos para uma nova competitividade de mercado.
Esta Agenda estabeleceu como prioridades alcançar a competitividade nos países da EU através da liberalização dos produtos e serviços, e em particular o mercado de trabalho. Esta vontade política normalmente é conhecida como reformas estruturais.
O objectivo desta Agenda é que em 2010, a “economia seja mais competitiva, dinâmica e baseada no conhecimento, capaz de um crescimento económico sustentado com mais e melhores empregos e com maior coesão social”. Este objectivo pode qualificar-se de muito ambicioso.
Eis alguns objectivos principais:
Fomento da sociedade da informação.
Desenvolvimento de uma área europeia para a Inovação e Desenvolvimento.
Liberalização com especial atenção à política de competência.
Impulso às redes industriais, áreas das telecomunicações, transportes e serviços.
Maior eficiência nos serviços financeiros.
Melhoria da marca reguladora para a empresa.
Inclusão social; reciclagem e recolocação dos trabalhadores e modernização da protecção social.
Especial atenção ao desenvolvimento sustentável.
Hoje a situação económica europeia não está bem. A sua competitividade melhorou mas a produtividade não cresce ao ritmo desejável.
A cimeira de Lisboa identificou os problemas e desenhou os objectivos, por isso sabe-se que caminho seguir.

Aníbal Carvalho