terça-feira, 4 de março de 2008

Reflexão

O aperto de mão

Desde os tempos mais imemoriais que o género humano tem tido necessidade de se aproximar do seu semelhante. Isso fez com que progressivamente fosse criando hábitos e rituais que dessem significado a esse acto aproximativo. Estas e outras razões, mais ou menos profundas, criaram gestos de proximidade nos quais, mais ou menos implícitos, que manifestavam o carinho e o afecto entre as pessoas.
Estes gestos tornaram-se, pelo menos hoje em dia, mais simbólicos do que autênticos. É que a manifestação do afecto dá origem ao medo e cria distância. Da autenticidade passa-se para o faz de conta, ou fica apenas na aparência tão utilizada pelas gentes dos nossos dias.
Se não acreditam reparem como saúdam e são saudados por aqueles com quem se cruzam. A maior parte das vezes em que se convive, ou seja, os que fazem parte da mesma estrutura profissional, estão lá, vêem-se, mas mal se falam. Um cumprimento verbal é um luxo demasiado caro para deitar fora com um colega Dar um aperto de mão é algo que nos faz tocar no outro, sentir o seu calor e tocar o seu afecto. No entanto há apertos e apertos de mão. Há os que são dados com convicção e querem dizer ao outro; sim, estou contigo e sinto-me contente por te reencontrar. Todavia há outros que entregam a mão ao cumprimento, qual mão morta que mais não faz que esticar de forma flácida e sem energia, como se dissesse ao outro, estou aqui e faço isto mas não tenho a convicção de que é isto que quero fazer. Ora estes procedimentos são mais um faz de conta, pois mostram mas não promovem a energia que se pode transferir, de uns para outros, em sinal da amizade que pretensamente os une.
Eu normalmente sou muito sensível ao cumprimento quer seja uma saudação, tipo bom dia ou boa tarde, até a um aperto de mão ou um abraço mais apertado. Este tipo de gestos tem muito significado e revelam-me a amizade e proximidade que tenho com aquele que pode ser mais ou menos amigo. Estes gestos não são caros nem custam dinheiro. No entanto são gestos que poderão ser queridos e desejados por quem os dá e recebe, sem nada em troca a não ser quebrar gelos e promover a amizade e a proximidade.
Não é por acaso que nalgumas grandes cidades há cidadãos que se apresentam, mesmo anonimamente, disponíveis para quem quiser receber um abraço. É que na solidão dos nossos dias há tanta gente sem qualquer tipo de afecto que se puder receber um abraço gratuito e generoso é capaz de começar a reencontrar um novo sentido para a sua vida.

Aníbal Carvalho

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