sábado, 23 de fevereiro de 2008

REFLEXÕES

Palavra de Honra

HONRA


Todos nós, mais ou menos novos/velhos, crescemos a ouvir falar em honra. Isso era tão importante que em momentos de desespero ou de dúvida, e enquanto jovens, dizíamos muitas vezes aos outros que aquilo que afirmávamos era verídico e tinha credibilidade e afirmávamo-lo sob a nossa “palavra de honra”.
Esta honra de que falo, e com a qual mais ou menos todos estamos familiarizados, foi fruto de milhares de anos de construção de consciências ao longo da nossa história filogenética, e continua, ainda hoje, a ser baluarte e bandeira na maneira de ser e de agir de muita gente.
Esta gente de que falo não inclui os políticos, na sua maioria, e muito menos o governo que “democraticamente” nos desgoverna.
Este é um governo com glória mas sem honra. Ora quando esta se perde, perde-se a essência da pessoa humana que é a sua dignidade, a coerência, a verdade e sobretudo a verticalidade de cada um de nós. Ora nada disto se verifica em tal pseudo governo. Para tal governo o que diz agora e daqui a cinco minutos, para não dizer no instante seguinte, já não é o mesmo porque tal já não convém.
Todos aqueles que orientam as suas palavras, já não digo ideias, pois perante essas normalmente somos coerentes ou pelo menos defendemo-las, por este prisma “tipo rapidinha” em que se usa e abusa de opções e acções que apenas dizem e fazem o que lhes parece mais importante para sustentar a sua posição de poder, não são dignos de crédito e de honra. Para a honra não há conveniências mas verdade, para a honra não há “troca tintas” mas coerência, para a honra não há poder mas humildade, para a honra não há necessidade de se socorrer da democracia pois a acção acontece em nome daqueles que os elegeram e não como eles fazem em nome das minorias partidárias e parasitárias que os manipulam, aplaudem, bajulam e sustentam a sua desonra.
Estes tristes, apesar da alegria e o sorriso que sustentam, sabendo as desgraças e o sofrimento que provocam na maioria dos que os elegeram, maquievelicamente continuam a assobiar para o lado como se o mundo dos outros não fosse o seu, e o seu sofrimento, não fosse digno de ser olhado.
Aqui há uns anos atrás Francisco Fanhais cantava uma canção que dizia: “vemos, ouvimos e lemos não podemos ignorar…”. Hoje, mais do que nunca, vemos e sofremos na carne, ouvimos e sofremos na família com alguém que está envolvido, e lemos, mas parece que ninguém vê, ninguém ouve e ninguém lê. Por outras palavras todos sabemos mas ninguém quer saber, desde que não seja consigo. Chegou-se ao cúmulo do egoísmo em que as coisas só valem se nos baterem à porta, de resto não são relevantes nem nos tiram o sono. Onde nós chegámos.
É uma tristeza verificar que mesmo quando se reivindica, sindicalmente ou não, já não há seguidores ou há muito poucos. Que é feito dos valores que suportam a interacção de uns com os outros. Será que estamos todos a dormir? Será que nos anestesiaram? Será que o medo já invadiu o coração da sociedade? O que resta?
Há cerca de 10/12 anos um nobre político referiu que nunca se enganava e raramente tinha dúvidas. A sociedade evoluiu, e hoje, verificamos que os nossos políticos já nunca se enganam e nunca têm dúvidas. A isto chama-se a ditadura democrática, isto é, fazem-se eleger democraticamente, pedem maiorias e depois de estarem no poder desancam em quem os elegeu. Quem cospe no prato em que comeu não é digno de nada, apenas de censura, pois tirano já é.
Ao olhar para a sociedade de hoje vejo medo. Ninguém fala pois pode ir para a rua. Já foram tantos e tão ilustres, pelo que para sobreviver tem que se calar.
Vivemos em Portugal no século XXI. Quem houvera de dizer.
Temos um governo socialista eleito, mas as célebres reformas de que se vangloria, são contra os mais desprotegidos, os mais pobres e os indefesos. Basta olhar para a saúde, para a educação, para o mercado de trabalho, para o ambiente. Podem-se percorrer todos os ministérios. Queriam dar voz aos que não têm voz mas calaram-nos de vez. Amordaçaram-nos. Excepções feitas ao Manuel Alegre, Ana Gomes ou Helena Roseta. Já não há respeito nem pelo nome que se ostenta. Chamar Sócrates a tal demagogo é fazer morrer de vergonha dez milhões de vezes o verdadeiro Sócrates que defendeu a honra, a virtude, o saber e não se pavoneou à luz da sofística enganadora, perversa, manipuladora, mesquinha, interesseira e sobretudo apelativa à similitude de que "le roi c’est moi”.
Tudo isto é perturbador numa sociedade que quer ser democrática. Hitler também assim começou tal como todos os pequenos e grandes ditadores da história. Basta lê-la e fazer a correspondência e a sua identificação.
Aníbal Carvalho

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bem!!!
Haja olhos para lerem o que tão sabiamente escreveste.

Sócrates, o verdadeiro, ergueu-se para aplaudir... Tenho a certeza!